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sábado, 8 de março de 2014

Alquimia da embromação.

Olavo de Carvalho em 2005: Schuon, pau-mandado de Guénon, queria "islamizar a Europa". 

Apontei imediatamente os erros: 

- Schuon, se pau-mandado fora, seria do Sheikh Al Alawi, seu alegado mestre (apesar das controvérsias em torno dessa relação), não de Guénon;

- Olavo disse, em outro texto e falas online, que Schuon e Guénon discordaram sobre a natureza esotérica do batismo cristão, mas omitiu o fato de que essa desavença pública marcou o rompimento dos dois e a condenação da tariqa do Schuon por parte de Guénon, o que torna impossível que ela fosse a realização de seus planos. Até hoje, schuonianos e guenonianos não se bicam;

- Schuon deu ainda um outro passo e fundou um novo ramo da tariqa de Al Alawi, a Maryamiyya. 

Explicando algo essencial: só se cria um ramo novo em uma tariqa quando há algum tipo de inovação metodológica e até doutrinária trazida por um grande mestre renovador do sufismo, um novo qutb (eixo) espiritual, o que, segundo a tradição esotérica islâmica, surge somente a cada século "lunar" (cerca de 96 anos "solares"). Quando um novo qutb faz essa renovação, cria-se um novo ramo, que pretende preservar essa metodologia e doutrina para as futuras gerações, que não conviverão com o mestre original, pelo menos até que um novo qutb adapte a metodologia e a doutrina para a sua época. 

É por isso que se tem Abu al-hasan ash-Shadhili fundando a Shadhilyya, Abu Abdullah Muhammad al-Arabi al-Darqawi renovando essa ordem e criando o ramo Shadhiliyya Darqawiyya,  e Ahmad al-Alawi - o suposto mestre de Schuon - renovando-a e fundando o ramo Shadhiliyya Darqawiyya Alawiyya.

Percebe-se assim a irregularidade da ordem fundada por Schuon, que afirmou que, através de revelações diretas da própria Virgem Maria, teria recebido a incumbência de fundar um novo ramo, supra-confessional, sendo que era recente o surgimento do qutb Al-Alawi. Deu a esse ramo o nome de Shadhiliyya Darqawiyya Alawiyya Maryamiyya. 


Mas não importava eu dizer tudo isso. Eu cheguei a apontar para o Olavo o fato de que Seyyed Hussein Nasr, membro da Maryamiyya, havia defendido a divindade de Jesus Cristo em um debate, o que tornaria essa "islamização" promovida pela tariqa do Schuon um tanto quanto anti-islâmica. Mesmo assim ele insistia no caráter islâmico dessa tariqa. 

Mas então surgiu uma pedra no caminho: the Velasco stone. All of a sudden, o discurso mudou. Hoje, em seu perfil no Facebook, Olavo de Carvalho postou a confirmação de tudo o que eu havia dito em contrário à sua tese da "alquimia da islamização" de Schuon/Guénon:

"Islamizar a Europa" era o sonho inicial de F. Schuon quando voltou da Argélia nos anos 40 do século XX. Por volta de 1980 ele havia mudado completamente de planos: queria era schuonizar todas as religiões..."

"O Schuon que eu conheci em 1986 já era o "perenialista", não o "muçulmano".


"Schuon selou o seu destino quando assumiu a defesa do caráter iniciático dos sacramentos cristãos (hoje um dogma da Igreja, consagrado no Catecismo de João Paulo II), solapando o monopólio islâmico e maçônico do esoterismo, representado por Guénon. Daí por diante as tariqas guénonianas se voltaram cada vez mais contra ele, e ele por sua vez foi se afastando cada vez mais do islamismo."










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