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quinta-feira, 4 de abril de 2019

Bolsonaro e Araújo: querem que Hitler desenhe?




Em 2017, Dinesh D'Souza, intelectual conservador conhecido nos EUA, porém de origem indiana, e que já foi preso por ter cometido fraude eleitoral, lançou um livro em que alegava expor as "raízes nazistas da esquerda americana".  




E, ainda em 1944, Ludwig Von Mises já havia proclamado a influência marxista pelo menos nas idéias econômicas dos nazistas.





De uma forma ou de outra, não é de hoje que autores populares na direita americana tendem a identificar o nazismo com o socialismo (não muito diferente da esquerda, frequentemente disposta a chamar qualquer liberal de "fascista"), tornando esse veredito, longe de consensual academicamente, extremamente comum entre os conservadores por lá. 

Essa atual celeuma sobre o tema envolvendo autoridades brasileiras - não só o Ministro Ernesto Araújo, como o próprio Presidente -  é só consequência da absorção de cacoetes americanizados pela direita daqui, em um fenômeno não muito diferente da presença da Estátua da Liberdade na loja de departamentos do empresário bolsomínion.




E não me parece que seja uma questão sem fundamento: como dizer que uma agremiação política denominada Partido Nacional-Socialista dos Trabalhadores Alemães não era socialista? 

Eu mesmo já concordei com essa posição exatamente devido a essa evidência aparentemente insofismável. Isso até eu perceber que, pelo mesmo critério, a esquerda americana seria toda composta de liberais pelo simples fato de que, nos Estados Unidos, "liberal" é o termo empregado para se referir à esquerda. Ou que os conservadores americanos seriam monarquistas, como seus congêneres britânicos, apesar de se identificarem como defensores dos princípios e valores que nortearam a constituição liberal-revolucionária de seu país.

Ou seja: será que o termo "socialismo" e seus derivados tinham o sentido usual também para os fundadores do Partido Nazista?


Não foi isso o que respondeu Hitler, em uma entrevista concedida em 1923 e republicada em 1932, conforme reprodução pelo jornal The Guardian e da qual traduzo alguns trechos essenciais para a discussão:



"Quando eu tomar o poder na Alemanha, colocarei um fim nos tributos externos e no bolshevismo doméstico [...] O bolshevismo [...] é nossa maior ameaça. Mate o bolshevismo  na Alemanha e você restaura o poder de 70 milhões de pessoas. A França deve sua força não a seus exércitos, mas às forças do bolshevismo e ao dissenso em nosso meio [...]"


Essas foram palavras do próprio Führer. Mas, ainda assim, pode-se argumentar que ele criticava o socialismo internacionalista russo, não sua suposta vertente nacionalista. Isso parece ter ocorrido ao entrevistador também, que, no entanto, estranha o fato do programa do partido de Hitler não refletir isso:

"Por que [...] o Senhor chama a si mesmo de nacional-socialista, já que o programa do seu partido é a própria antítese do que se comumente atribui ao socialismo?"


Ao que ele respondeu:

"O socialismo [...] é a ciência de se lidar com o bem-estar comum. O comunismo não é socialismo. O Marxismo não é socialismo. Os marxistas roubaram o termo e confundiram seu significado. Eu arrancarei o socialismo dos socialistas.
O socialismo é uma antiga instituição germânica, ariana. Nossos ancestrais alemães tinham certas terras em comum. Eles cultivavam a idéia do bem-estar comum. O marxismo não tem o direito de se disfarçar de socialismo. O socialismo, diferente do marxismo, não repudia a propriedade privada. Diferente do marxismo, ele não envolve a negação da personalidade, e, diferente do marxismo, é patriota. 
Nós poderíamos ter nos denominado de Partido Liberal. Nós escolhemos nos denominar nacional-socialistas. Nós não somos internacionalistas. Nosso socialismo é nacional. Nós exigimos o cumprimento das justas súplicas das classes produtivas pelo Estado na base da solidariedade racial. Para nós, estado e raça são unos". 
"[...] As favelas [...] são responsáveis por nove décimos, e o álcool por um décimo de toda a perversão humana. Nenhum homem saudável é marxista. Homens saudáveis reconhecem o valor da personalidade".
"[...] Nossos trabalhadores têm duas almas: uma é alemã, e a outra é marxista. Nós temos de despertar a alma alemã. Nós temos de extirpar o cancro do marxismo. Marxismo e germanismo são antíteses."
 A propósito, a mesma entrevista cita palavras de Leon Trotsky na qual o mais internacionalista dos comunistas - na realidade, o mais interplanetário dos comunistas - sugere que o nacional-socialismo alemão seria "o último baluarte da propriedade privada".

Deu para entender ou querem que Hitler desenhe?














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