Isso me fez lembrar de quando ele não era ainda um "intelectual público" e nós trocamos alguns e-mails, pois nos conhecemos participando de uma mesma lista de discussão na internet. Como ele colocava o respeito à liberdade individual como referencial absoluto da conduta humana em sociedade, questionei-o sobre o conceito de maioridade, já que certos direitos individuais só são conquistados após uma certa idade e, como destaquei então, esses direitos estavam sendo limitados necessariamente por outrem que não o individuo dito "menor".
Durante a troca de e-mails, chegamos a um ponto em que eu lhe perguntei se ele permitiria que um filho de 5 anos fizesse as malas e fosse embora de casa, não interferindo na decisão em nome da tal "liberdade individual". Ele disse que provavelmente deixaria que o filho se fosse.
Supondo, plausivelmente, que ele já não mais se diz predisposto a permitir que a liberdade do filho vá tão longe, pode-se dizer que ele "evoluiu". O que há de errado com isso?
A minha resposta é "Nada, porém tudo". E justifico:
O que se espera de um adulto qualquer é que ele perceba de forma imediata que uma criança de 5 anos não pode ter o direito de "packing up and leaving". Essa não é uma simples questão ideológica, e tampouco uma daquelas coisas que "a gente só entende depois que tem filho". Exceto se ele tiver uma personalidade doentia - o que eu não creio ser o caso -, é evidente que ele jamais acreditou mesmo que teria essa atitude. Ele estava vestindo uma máscara ideológica.
E o que há de errado no vídeo é que ele continua fazendo isso.
Antes, preciso dizer que o Rodrigo melhorou muito, e talvez seja uma das mais equilibradas - ou menos radicais - figuras públicas da "nova direita", juntamente com o Luís Felipe Pondé, mas, para um bom observador, o que se vê ainda é uma carapaça discursiva ideológica. Mas só que uma carapaça um pouco diferente da anterior.
Eu poderia apontar, como evidência do que afirmei, a necessidade constantina de afetação de uma cultura superior, o que é perceptível na forma quase obsessiva com que faz referência a pensadores famosos para dar substância às mais pueris de suas afirmações. Mas essa infantilidade do pai de família empalidece diante de sua incompreensão desses mesmos pensadores.
No caso do vídeo em questão, Constantino fala sobre a importância dos aspectos estéticos e morais da sociedade, geralmente negligenciados pelos chamados "libertários" - grupo do qual foi mais partidário-, que tendem a subjetivizá-los. Ele faz, então, referência a Roger Scruton.
Ora, o conservadorismo de Scruton, assim como o de todos os europeus, difere muito do que se chama de conservadorismo nos EUA, cujo sentido foi macaqueado pelos tupi-neocons. Basta ler esse trecho da "book description" de seu livro "Meaning of Conservatism" na Amazon:
Scruton’s idea of conservatism ... might well shock the sensibilities of those American "conservatives" who view it as little more than the workings of the free market. Conservatism, says Scruton, is neither automatic hostility toward the state nor the desire to limit the state’s obligations toward the citizen. Rather, conservatism regards the individual not as the premise but the conclusion of politics,...
Outro livro que mostra a distância entre o conservadorismo de Scruton e o americano é How to Think Seriously About the Planet: The Case for an Environmental Conservatism, em que ele defende que organizações locais assumam a responsabilidade pelo meio-ambiente em oposição aos interesses corporativos e soluções estatistas e centralizadoras.
Não, o conservadorismo original, a despeito do que os tupi-neocons compraram em Miami, não é uma mera defesa do livre mercado com concessões pontuais à "moral e os bons costumes" que supostamente adquirimos de uma família idealizada e impolutamente cristã.
O conservadorismo de fato não é somente um pé atrás diante do novo, como dá a entender sua compreensão como "política da prudência", mas uma atitude propositiva com base em uma concepção - testada ao longo do tempo - de como uma sociedade funciona, e como o faz melhor. O conservadorismo concebe o indivíduo como organicamente ligado à pólis em uma teia de relações familiares, mas sobretudo civis, comunitárias, diferindo, dessa forma, tanto do conservadorismo americano/liberalismo clássico - com sua ênfase lockeana no indivíduo como ponto de partida -, como do estatismo esquerdista.
Mas essa diferença essencial fica apagada, como um "ponto cego", para a visão de alguém que mais se preocupa em citar do que em compreender. É por isso que, nesse mesmo vídeo, o Constantino consegue fazer uma breve defesa do Belo, que ele acredita "conservadora", indo na esteira do mesmo Scruton, mas ter, há não muito tempo, escrito isso no Facebook, conforme narrado por Janer Cristaldo:
- Mensagens filosóficas ou políticas, você não consegue fugir da essência de quem você é, blá-blá-blá. O que REALMENTE me impressionou em Homem de Ferro 3 foi algo mais banal, mais prosaico, mas totalmente atrelado ao conceito de cinema como a sétima arte, em minha humilde opinião: os efeitos especiais! Eu me senti transportado para um mundo à parte. É impressionante. Ver aquela maravilhosa mansão do Tony Stark ruindo foi algo espantoso, fora tantas outras coisas. Vai ver se Cuba ou Irã podem fazer algo parecido... :)
Eu também assisti a esse filme e gostei. É um excelente entretenimento. Mas só quem se limita a arrotar uma apreciação do Belo pode se sentir "transportado para um mundo à parte" pelos "efeitos especiais" da "maravilhosa mansão do Tony Stark ruindo [...,] fora tantas outras coisas".
Sim, melhorou, mas ainda não passa de mais um pastel de vento. Só que de outro sabor.
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