Ernesto Araújo, o chanceler brasileiro indicado por Olavo de Carvalho, notabilizou-se, entre outras razões igualmente controversas, por ter enaltecido o "Deus de Trump", que, segundo Araújo, "não é o Deus-consciência cósmica", mas "o Deus que age na história, transcendente e imanente ao mesmo tempo".
No mesmo ensaio, intitulado "Trump e o Ocidente", ele diz acreditar haver "ecos guenonianos" no discurso de Trump em Varsóvia, atribuindo-os à influência de Steve Bannon, então seu estrategista.
Bannon é, de fato, influenciado não só por René Guénon, como também por Julius Evola, mas, mesmo que nos esforcemos em considerar a fé de Trump algo genuíno (convicção religiosa essa que parece ainda mais cínica quando o vemos e ouvimos falar dela, como no vídeo abaixo), não é verdade que o conceito de Deus em Guénon sequer se assemelhe à concepção cristã ou especificamente católica, ao contrário do que afirma Araújo.
Em uma entrevista, reproduzida no vídeo acima e mencionada em um artigo do Washington Post, Trump diz que "Deus criou isso [apontando para seu campo de golfe e a natureza em volta], e está aqui o Oceano Pacífico bem atrás de nós".
Guénon cria no emanacionismo. E cria não só que o universo teria emanado da Divindade - e não sido criado por Ela -, mas que os diferentes nomes divinos seriam referências também a diferentes manifestações hipostáticas dessa Divindade. Mais especificamente, Guénon escreveu, em O Rei do Mundo, que o El Élyon, o Deus Altissimo de Melquisedeque, seria o mesmo Emmanuel a que Cristo se referia, mas que esse seria superior a El Shaddai, o Todo Poderoso que se manifestou a Abraão.
Araújo é autor de 3 livros de ficção. Um deles é intitulado Quatro 3, que escreveu quando "servia na embaixada em Berlim". Em entrevista sobre o livro publicada no site da própria editora, há um trecho que demonstra sua familiaridade com o gnosticismo, e evidente simpatia para com a heresia:
Alfa Omega: Seu livro também fala muito de deus.
Ernesto Araújo: Sim. Outro ponto que procuro trabalhar é a idéia da fragilidade de deus. Acho necessário contestar a concepção de deus como administrador do universo, e propor aquela de deus como prisioneiro desse mesmo universo. Precisamos resgatar a visão gnóstica do “deus que sofre”, e esquecer a figura do deus-juiz, do legislador cósmico vigiando e punindo.
Acesso à Parte II: A Metapolítica do Ministro.
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